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::::c::::a::::o::::s::::m::::o::::s:::: Caô Press

26.6.03

Nóis nem num sabemo o que falemo nem num pensamo nas conseqüença

O Jornal Nacional acaba de definir o furto como o roubo em que "não se chega a ver o ladrão".

Talvez "furto" seja uma palavra difícil demais para os telespectadores do jornal, carecendo portanto de definição. Mas poucas vezes eu vi uma definição tão delirante.

TV é realmente um troço interessante. Quem sabe um pouco fica sabendo mais (por exemplo, agora eu sei que o pessoal do JN não tem a mínima idéia do que seja furto.) Mas quem sabe menos sairá da frente da telinha sabendo menos ainda. Cruel.




Nóis nem num sabemo o que fazemo nem num pensamo nas conseqüença

Um bebê de pouco mais de um mês de idade escapou de uma boa em Adamantina, SP.

Um médico prescreveu-lhe dipirona (para baixar a febre), mas o farmacêutico entendeu digoxina (um remédio para o coração) e vendeu esse remédio aos seus pais. A mãe amassou o comprimido com uma colher e lhe deu, mas o pai estava ligado e o bebê se safou.

Há dois mil e quinhentos anos, um dos primeiros filósofos, Heráclito, disse: Não se deve agir nem falar como os que dormem. Será tão difícil assim entender esse fragmento?

Todas as hierarquias baseadas em valores estabelecidos - no sangue, no dinheiro e (até mesmo) no saber - são arbitrárias. O único critério para uma "hierarquia não autoritária" é a consciência.

A consciência não se impõe, ela se expande ou se comunica. Quando o pai disse à mãe que o remédio fôra trocado, não houve uma (palavra de) ordem ou uma imposição. A mãe entendeu a situação e correram todos para o hospital.

O erro fatal (que praticamente todos cometem) é o de interpretar a consciência de maneira puramente extensiva (saber), quando o segredo está em aprender a pensá-la em intensidade. Imagine-se um músico que conheça apenas cinco notas (intervalos), e outro que conheça doze. Comparativamente, este possui um saber maior (mais extenso) do que o outro, mas isso não quer dizer que sua música será necessariamente mais intensa. Do mesmo modo, é provável que o saber do médico cacógrafo seja muito superior ao do pai do bebê, mas isso não fez qualquer diferença: tanto saber não o livrou de expor o pequenino ao perigo; não houve consciência suficiente para equacionar as (prováveis) conseqüências de sua letra ruim. Mais grave ainda é o caso do atendente da farmácia, cuja consciência não alcançou sequer a possibilidade (no entanto tão real) de que ele pudesse enganar-se. A mãe do bebê, por fim, poderia ter evitado o susto com a maior facilidade mas não conferiu a embalagem do remédio. Todos eles agiram como os que dormem, exatamente como nós fazemos todos os dias.




Depois dessa...

Vi este link no site do sr. Eduf:

A Associacao da Industria Fonografica Americana (RIAA, na sigla em inglês) anunciou que vai coletar informaçoes a respeito das pessoas que distribuem ilegalmente as musicas usando softwares baixados da rede mundial de computadores, para compartilhamento de arquivos de audio e video.

Dizer o quê? Ganância e burrice rulez, mesmo.




Campanhas que são uma droga

A TV Globo acaba de dizer que o Ibope disse que as campanhas responsabilizando o consumidor de drogas pela violência do tráfico estão dando certo.

Como sou um sujeito muito estranho, dou mais crédito a uma (boa) dissertação de mestrado do que à Globo e ao Ibope (juntos); e a julgar pela matéria de Maria Paola de Salvo e Adélia Chagas na Agência Carta Maior, posso até ser um sujeito estranho, mas ainda não perdi o juízo. É uma boa leitura para comemorar (?) o dia Nacional contra as Drogas (ou coisa que o valha.) Não, não vou resumir coisa nenhuma. Está tudo lá, mastigado.

Eu sou a favor da descriminalização e mesmo da legalização das drogas, mas não vou entrar (ao menos por hora) no mérito da questão. A argumentação é longa, penosa, e todo mundo que ganha o seu nesse negócio iria espernear - até mesmo os traficantes.




Two Women

Acabo de rever um filme extraordinário que - pasmem - passou na TV aberta: Two Women, de Vittorio de Sica. Lançado em 1961 - ano dos mais benfazejos na história da humanidade - ele rendeu um merecidíssimo Oscar para Sophia Loren.

É claro que muitos filmes pintaram os horrores da guerra, e alguns desses filmes são simplesmente geniais. Mas o horror e o desamparo mostrados por de Sica estão léguas acima e além da mediocridade sanguinolenta dos efeitos especiais. É como se o rosto de Sophia Loren fosse a tela onde o diretor pinta o invisível, de acordo com a célebre fórmula de Paul Klee: a arte não fornece uma reprodução do visível, ela torna visível.

NOTA: O Blogger fez grandes "progressos" técnicos e (até onde posso ver) estropiou a maioria dos caracteres acentuados, tornando a leitura deste blog quase impossível. Pode ser a morte do brutinho.




Da série Alphaville (6/13)





25.6.03

Pimenta nos olhos dele

Bill Gates também recebe spam
Em mensagem enviada ontem, Gates disse ser "ridículo" o fato de receber e-mails ensinando como se livrar de dívidas ou ficar rico mais rápido. Ele também comentou as tentativas da Microsoft de acabar com os e-mails indesejados.

hohoho... hohoho...






Noções de semiologia num site de beleza

As jóias falam
Geralmente, as pessoas não prestam muita atenção às orelhas, mas elas são uma parte do corpo que falam por si só e que possuem linguagem própria. Brincos trabalhados atraem a atenção e enfatizam que a pessoa é “toda ouvidos”; aberta e atenta para ouvir os outros.(...)

Uau. Não uso brincos. Seriam minhas orelhas... mudas?




24.6.03

As coisas que procuro
Não têm nome.
A minha fala de amor
Não tem segredo.

Perguntam-me se quero
A vida ou a morte.
E me perguntam sempre
Coisas duras.

Tive casa e jardim.
E rosas no canteiro.
E nunca perguntei
Ao jardineiro
O porquê do jasmim
- Sua brancura, o cheiro.

Queiram-me assim.
Tenho sorrido apenas.
E o mais certo é sorrir
Quando se tem amor
Dentro do peito.


Hilda Hilst




22.6.03

Da série Alphaville (5/13)





21.6.03

just because i'm a tricky kid

Enjoy it, boy.

=)




Não percam, meninos!

Sensacional a série de posts sobre nomes estranhos no blógui do jornalista Mauro Ventura.



20.6.03

Literatura infantil - continuação

O post anterior trouxe-me boas recordações do tal armário onde minha mãe achava que escondia seus livrinhos licenciosos.

Na verdade, não passava de um caixote de pinho com duas prateleiras e uma portinhola frestada, cuja fechadura consistia num bem atado fio de arame. Como não era preso à parede, ficava num canto da área de serviço do nosso antigo apartamento no centro de Angra e servia de suporte para uma pilha de jornais amarelados, usados na limpeza das janelas e espelhos.

Sempre tive um interesse peculiar pelo que conseguia ver através das brechas desse armário: duas fileiras de livros dispostos de forma a não dar pistas dos títulos, totalmente diferente do que acontecia com os volumes da pequena biblioteca da casa, à qual eu tinha livre acesso.

Insisti várias vezes numa autorização para lê-los e recebia um indefectível não-porque-não como resposta. Até que finalmente decidi aproveitar o fato de que a mãe trabalhava o dia todo fora de casa e pus-me a desfazer com cuidado a amarração do arame, atividade que exigia paciência e nenhuma aporrinhação. Dei azar nesse segundo item e acabei sendo pega em flagrante pela empregada em sua pose de chaleira: uma das mãos em forma de alça segurando a cintura e a outra no ar, alertando-me quanto ao castigo que teria se ficassem sabendo daquilo.

Chantageei a moça na cara dura, ameaçando abrir o bico sobre as visitas vespertinas que ela recebia do namorado enquanto eu e minha irmã, inocentes, assistíamos Tom & Jerry na sala. Tamanha doçura dissipou o ar de bedel da doméstica e, comovida, ela ajudou-me a terminar de desembaraçar o fio.

Sozinha, sentei-me no chão e aleatoriamente puxei um dos volumes. Era O túmulo que chora, da Adelaide Carraro. Se o título era esdrúxulo e o enredo dispensa comentários, o livro ainda possuía uma edição horrorosa até para os padrões de uma menina de dez anos: o desenho tosco de um túmulo "chorando" na capa e, na contracapa, uma foto da escritora em pé, abraçando um menino e segurando uma rosa. Embaixo da foto, a legenda "Adelaide Carraro, a escritora que amou as criancinhas". Anos mais tarde, descobri que além da petizada, ela também amou o Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo.

Sob os auspícios da empregada, passei aquela tarde e muitas outras me divertindo com as peripécias das mocinhas que caíam na vida, seduziam padres ou que gostavam muito de brincar com as primas, narradas pela Adelaide, e também com as mulheres da Cassandra, sofisticadas, insaciáveis e com questões existenciais muito próximas às levantadas nos filmes do W.H. Khouri, outro tio clássico da minha infância.

Não posso terminar sem antes dizer que, no meio do mafuá das obras das duas senhoras, havia o livro de um tal DH Lawrence que eu li, reli, treli.

Quanto à minha amada mãe, ela segue sem saber da violação de seu acervo de historinhas picantes.





Da série Alphaville (4/13)






Literatura infantil

Se você escreve livros infantis, precisa ser um carrasco implacável.
JK Rowling, justificando a morte de um dos personagens principais no novo livro do bruxinho Harry Potter.

É por isso que só li coisas leves quando criança, como os livros altamente educativos das tias Cassandra Rios e Adelaide Carraro, que minha mãe escondia (mal e porcamente, diga-se de passagem) num armário.

Puxa. Que infância adorável eu tive.




19.6.03

Ampliando os horizontes

Eis o motivo pelo qual eu a-do-ro andar de ônibus:

- Mulé é mesmo tudo complicada, cara.
- Que nada, rapaz. A minha té que foi bem facinha...





Those ladies in Japan



Minha pequena homenagem aos noventa e cinco anos de imigração japonesa e à panelinha Betsuyaku.

De quebra, link para um excelente site sobre aquelas mui delicadas mulheres.




18.6.03

Crash

Meu pai gostava de dizer que a barca (que faz a travessia Rio-Niterói) é o transporte mais seguro que existe.

Como sei nadar e já não viajo com as pernas penduradas pra fora (na proa da embarcação), não tenho nada a objetar. No que me toca, o único perigo numa viagem de barca é levar com um avião na cabeça.

Mas viajar de catamarã, pelo visto, sempre terá um gostinho de aventura. E não será por falta de aviso.




A corda bamba

O pedreiro Wagner, interessado em apoiar o ex-governador que lhe deu uma casa, também não entendia os discursos:
— Um colega (chamado Cláudio, da associação de moradores) me chamou para ajudar o pessoal. Sou contra o Lula porque ele não fez nada por mim — disse Wagner, que usava boné da campanha de Garotinho e estava constrangido por não saber o que são juros. — Acho que é um dinheiro que é alto ou é baixo. Só que o Lula não quer soltar o dinheiro. As crianças aí precisando de escola e ele só quer ajudar o lado de lá. E a Benedita fica malhando o Garotinho — completou, ignorando o deputado Fernando William (PSB-RJ) que, no palanque, criticava o aumento do superávit primário.


Mais detalhes sobre o sucesso do "ato" Acorda Lula, organizado pelo Coronel Bolinha no centro do Rio aqui.

E não, este não é um post cômico. É pra chorar, mesmo.





Da série Alphaville (3/13)






Direto e reto

It's very clear our love is here to stay
Not for a year, but ever and a day.
The radio and the telephone
And the movies that we know
May just be passing fancies and in time may go.
But, oh my dear, our love is here to stay.
Together were going a long, long way.
In time the Rockies may crumble,
Gibraltar may tumble, they're only made of clay.
But our love is here to stay.


Oh, yeah. :)




17.6.03

Laços (eternos) de família

Seja bom, muito bom para com a sua sogra.




Se os sintomas persistirem, já era.

Descaso e ganância: eis os ingredientes da exitosa fórmula utilizada pelos laboratórios médicos e vigilância (?) sanitária para melhor servir a população.

Esse pessoal vai longe.




A festa terminou. Mesmo.

Li esse texto do Jardel Sebba tempos atrás, antes mesmo de assistir A festa nunca termina, narrativa cinematográfica da fantástica aventura de Mr. Tony Wilson & co. pela Manchester (ou Madchester, para os iniciados) do final dos anos setenta até meados dos oitenta.

O filme só não menciona que o histórico clube Hacienda se tornaria um prédio de apartamentos. O que poderia ser bem mais engraçado do que aquele final, digamos, alucinógeno.




16.6.03

Da série Alphaville (2/13)





14.6.03

Da série Alphaville (1/13)



Esta é a primeira de uma série de treze fotos do filme Alphaville, de Godard, relançado e em exibição HOJE nos cinemas. Se você ainda não viu, não dê uma de estúpido(a): veja.



12.6.03



Say hello to the angels, Greg.




Não tem no WinMX

INSTRUCCIONES PARA DAR CUERDA A UN RELOJ.
Piensa en esto: cuando te regalan un reloj te regalan un pequeño infierno florido, una cadena de rosas, un calabozo de aire. No te dan solamente un reloj, que los cumplas muy felices, y esperamos que te dure porque es de buena marca, suizo con áncora de rubíes; no te regalan solamente ese menudo picapedrero que te atarás a la muñeca y pasearás contigo. Te regalan -no lo saben, lo
terrible es que no lo saben-, te regalan un nuevo pedazo frágil y precario de ti mismo, algo que es tuyo, pero no es tu cuerpo, que hay que atar a tu cuerpo con su correa como un bracito desesperado colgándose de tu muñeca. Te regalan la necesidad de darle cuerda para que siga siendo un reloj; te regalan la obsesión de a atender a la hora exacta en las vitrinas de las joyerías, en el anuncio por la radio, en el servicio telefónico. Te regalan el miedo de perderlo, de que te lo roben, de que se te caiga al suelo y se te rompa. Te regalan su marca y la seguridad de que es una marca mejor que las otras, te regalan la tendencia a comparar tu reloj con los demás relojes. No te regalan un reloj, tú eres el regalado, a ti te ofrecen para el cumpleaños del reloj.


Do Restos del incendio, álbum da Migala, banda espanhola da qual sempre tive ótimas referências, mas que ainda não tive oportunidade de ouvir.
Tirando pelas letras, creio que não me arrependerei.



4.6.03

Lola

Acaba de chegar ao meu cafofo o primeiro livro da coleção que O Grobo e a Trolha de SP vão oferecer aos seus leitores. Trata-se de Lolita do Nabokov, que será distribuído na faixa para os assinantes e para quem comprar um dos dois diários nesse domingo.

Eu li Lolita quando tinha quinze anos, incentivada por uma professora de literatura que exultava quando seus alunos liam mais que os Alencar, Lins do Rêgo e Machados (da fase romântica, que eu não gosto tanto) exigidos pela grade curricular. O que, obviamente, era raro. Um dia ainda escreverei sobre essa professora. Ela vale, confiem, bem mais que um post.

Voltando à Lolita, o trato com a mestra era que, após a leitura, eu fizesse uma pequena resenha. Não tenho essa crítica colegial aqui comigo, mas me lembro que toda ela versava sobre o extraordinário parágrafo de abertura do livro (e que muito me impressionou), que resume todo o arrebatamento do professor Humbert Humbert pela pobre Dolores Haze:

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.

O que eu deixei de mencionar na resenha, mas farei agora e já com um certo conhecimento de causa é que essa brincadeira com o nome da ninfeta é a mais delicada descrição de cunnilingus que eu já li. De longe.





Como diria Odair José

Atenciosa? Desagregadora?

Ná.

Eu sou aquela que vai tirar você desse lugar.






Applause!

A sociedade culta, em suas simplificações positivistas, acredita que a propaganda resolve tudo. O usuário de drogas estaria só esperando que alguém o cutucasse e martelasse em seu ouvido o nexo entre o seu vício e a violência do tráfico. É como se a campanha dissesse: “Vamos dar discernimento a esses lunáticos”, acreditando que o tal despertar ético se resolva com uma equação de primeiro grau, do tipo “informação + responsabilidade = reação”. Se a vida fosse uma grande cartilha de escoteiro, estaria tudo resolvido.

Guilherme Fiuza quebra o coco na cabeça dos inventores da ética.




2.6.03

As musas de caô press - Junho

La Cardinale



Uma mulher que traz o elemento desagregador estampado na face é aquela que, no primeiro olhar, você percebe que ela pode derrubar o império romano essa noite. Ou simplesmente dormir abraçada com você. E você nunca vai saber com a devida antecedência qual das duas coisas ela pretende. São fundamentais para a nossa formação os discos competentes, os filmes bem feitos e as mulheres atenciosas. Mas são os desagregadores que fazem a diferença. Jardel Sebba






Ecos do fim-de

One of these mornings
You're goin' to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take the sky
But till that morning
There's a nothin' can harm you
With daddy and mammy standin' by


:o)




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